Num quarto de hospital de paredes beige,com uma janela de estore corrido até meio ,por onde entra uma luz sonolenta de tarde de Primavera...
Três camas...três senhoras tão diferentes...e tão iguais na doença!
Três senhoras "mutiladas"...três seios "rabiscados " a bisturi...com marcas que restarão eternamente...nos olhos de quem as tem, as palpa no seu corpo agora diferente,de quem as olha no espelho...!
Três cabeças cheias de medo, tristeza, e muita esperança,num projecto de cura anunciada...!
Visitas para três...todas de olhar pouco á vontade ,mas com muito amor por quem ali está de seio mutilado...
Elas são a verdade escarrapachada de que Cancro não escolhe raça,idade,crença...nada!Cancro passeia-se por entre nós com vontade de brincar ao "agora posso estar...agora já não estou"...!
Chamo-lhe por escolha "a maldita"...se separar-mos em dois a palavra faz-me sentido porque não se diz Cancro de uma forma que consiga ser "bem-dita"...quem a anuncia,nunca o faz feliz ,quem a ouve sente-se á beira do abismo...
Voltando ao inicio ,e áquele quarto de hospital...quando o silencio se instala,quando as visitas se calam e recarregam baterias para conseguir suportar a dor de ver a dor na mente destas mulheres...ouvem-se os passinhos ligeiros dos enfermeiros ,que ministram poções mágicas...
Ouvem-se passinhos das auxiliares que desinfectam toda a sorte de aparelhos de ajuda ás mais básicas necessidades humanas...e este silencio que se instala,cai como um lençol negro,cheio de interrogaçoes inscritas,algumas delas ilegiveis de tão negras como o lençol...mas vem de novo mais um riso ,mais um periodo de conversas que dispersam soprando, o negro que aparecera...e volta de novo a esperança,e sente-se o calor da vontade de saír vivo na batalha contra esta "maldita"...
Nunca mais nada será igual...nem estas três senhoras ,nem nós visitas...
Arrancaram-nos a imortalidade á força...tornaram-nos mais humanos,mais verdadeiros,mais frágeis e ao mesmo tempo mais fortes...
Felizes daqueles que não vêm a "maldita"no corpo dos seus...felizes aqueles que a "maldita" não escolhe para brincar...
Qual será o peso do temor,do desgosto,do sentimento de fé na cura...que cada uma destas três senhoras carregam na alma?...Não se pesa ..não se mede...e ninguém que não o sofra conseguirá alguma vez entender...
Olhar nos olhos destas mulheres sempre que o "presente se lhes fugia",e ficavam de pupilas ausentes...centradas num local imaginário ,onde seios, cicatrizes bisturis ,e futuro em forma de interrogação,se reuniam...vislumbrava uma imensa solidão,grande ,tão grande ...que pensar nela sem chorar é uma ginástica de nervos dificil...
Que tenha sido exorcisada a "maldita"...
Que ela nunca mais vos chame ou se aproxime de vós...!!!
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Quem sou eu
- brisa
- espreito pelo canto dos olhos a minha alma,ávida de encontrar "coisas"sobre mim que desconheço!
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